segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mulheres se envolvem cada vez mais com o tráfico


Mulheres entram na vida do crime e assumem o comando do tráfico



O aumento de mortes violentas de mulheres jovens revela que elas estão, cada vez mais envolvidas no tráfico

As estatísticas da Polícia são reveladoras. Cada vez mais, aumenta o envolvimento de mulheres no crime de tráfico de drogas. Na semana passada, a Delegacia de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc), em apenas duas operações, prendeu quatro jovens, todas acusadas de comercializar substâncias entorpecentes em diversos pontos da Grande Fortaleza. E também por conta da maior participação delas neste tipo de delito, aumentam também os casos de assassinatos de mulheres muito jovens.

Mulheres revelam diferentes motivos para entrar no caminho das drogas. Mas, a maioria diz ter sido forçada pelos companheiros que estão no tráfico FOTO: THIAGO GASPAR

Conforme as autoridades, com os constantes assassinatos de traficantes e de seus comparsas, em crimes de ´acerto de contas´, seja por dívidas ou por disputa de território, as esposas, amantes, companheiras e até filhas deles assumem o papel de sucedê-los no controle da venda de drogas. Os registros de prisões comprovam esta realidade.

Operação

O titular da Denarc, delegado Pedro Viana, revelou, na quarta-feira passada, os resultados das últimas operações deflagradas por aquela Especializada e, mais uma vez ficou comprovado que as mulheres vêm chefiando diversas quadrilhas do tráfico em comunidades periféricas da Capital e região metropolitana.

Uma das primeiras operações aconteceu no bairro Pirambu, diante da informação de que um ponto de venda de drogas funcionava na residência de uma mulher, na Rua Santa Inês.

Depois de um trabalho de ´campana´ que durou alguns dias, veio a constatação da Polícia, uma mulher de 30 anos, identificada como Elisângela Lima do Vale, acabou sendo apanhada em flagrante. E na casa dela foram encontradas as drogas denunciadas pela vizinhança. "Encontramos papelotes de cocaína, dinheiro oriundo da venda das drogas e, também, 480 frascos de um líquido utilizado na preparação de pedras de crack", contou um inspetor da Denarc que participou do trabalho de investigação no local.

Mais prisões

Ainda no dia 13 de março, outra investigação da mesma delegacia chegou a uma mulher que, conforme denúncias recebidas pela Polícia, era a ´chefe´ do tráfico na Rua Martins de Carvalho, no Bom Jardim, no ´Território da Paz´ (zona Sul da Capital).

Ali, a Polícia deteve Antônia Meire Gomes de Sousa, de apenas 24 anos.

Ao entrar na casa da suspeita, os inspetores acharam poucas provas, já que Meire se antecipou e jogou no esgoto as drogas que escondia para vender aos usuários do bairro. Mesmo assim, a Polícia encontrou ali uma pistola de calibre Ponto 40, arma de uso privativo da Polícia e que pode ter sido usada em mortes.

No terceiro desdobramento das operações, mais duas mulheres acabaram sendo detidas pelos agentes da Denarc. As duas vinham vendendo crack e papelotes de cocaína dentro de casa, uma residência situada na Rua Geraldo Barbosa, também no Bom Jardim.

Parceiras

Maria Camila Ferreira Boaventura e Monalisa Sousa da Silva, ambas com 19 anos de idade, comandavam a venda de entorpecentes naquela área da cidade. Na casa delas, os policiais apreenderam um revólver de calibre 38, além de maconha, cocaína, crack e diversos apetrechos do tráfico de drogas.

Chamou também a atenção do titular da Denarc a quantidade de armas de fogo que vêm sendo encontradas em poder das traficantes. Assim como os homens, elas montam quadrilhas para proteger suas atividades e armam os comparsas para cobrar dívidas ou eliminar os traficantes concorrentes.

"Certamente, foi importante a apreensão dessas armas de fogo para a contenção de outros crimes nas áreas onde as prisões ocorreram", diz Viana.

FIQUE POR DENTRO
Lei prevê pena de até 15 anos de reclusão

A lei federal de número 11.343, de 23 de agosto de 2006, pune no País o tráfico de entorpecentes. O artigo 33 diz que se constitui tráfico os atos de "importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar". A pena prevista nesses casos varia de 5 a 15 anos de prisão, além de pagamento de multa de 500 a 1.500 dias-multa estabelecido pelo juiz. De acordo com mesma lei, incorre em crime de tráfico quem "semeia, cultiva ou faz colheita de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas". Nestes casos, a pena vai de um a três anos de detenção.

Garotas acabam assassinadas
"Ela era uma jovem muito bonita, que chamava a atenção, mas vinha se envolvendo com pessoas que não prestam. Estava ficando feia, já estava muito magrinha, e teve esse triste fim".

Assim como os homens, as mulheres que enveredam pelo caminho da venda ou consumo de entorpecentes acabam sendo mortas de forma violenta, seja por causa de dívidas, seja pela disputa de ´território´ na periferia da cidade Foto: Alex Costa

A declaração à Polícia foi feita por uma garota diante do corpo de sua amiga, a jovem Luana, 18. Na noite de quinta-feira passada, Luana teve a vida ceifada de forma brutal no bairro Siqueira. Acabou sendo morta com dois tiros na cabeça. O crime aconteceu no Campo do Curitiba, no bairro Siqueira, na zona Sul de Fortaleza.

Escola

Ao tombar morta diante de várias pessoas, Luana estava ainda fardada. Voltava da escola pública perto do local do crime, onde frequentava as aulas noturnas. "Foram as más companhias que fizeram ela entrar nessa onda de drogas", contou outra amiga quando observava o trabalho de policiais na cena do crime.

O que aconteceu a Luana vem sendo recorrente nos bairros periféricos da Grande Fortaleza. O número de garotas mortas em supostos crimes de ´acertos de contas´ vem aumentando.

Ainda no mesmo dia da morte da garota (quinta-feira), outra mulher, identificada como Beatriz foi executada, a tiro, em circunstâncias semelhantes. O crime aconteceu na Rua Alvorada, no bairro Parque Santo Amaro.

Desde o começo do ano, 36 mulheres foram assassinadas em Fortaleza, em crimes que, segundo as primeiras investigações da Polícia, têm indícios fortes de ligação com o tráfico.

Um desses casos chamou a atenção das autoridades pela forma cruel como as vítimas foram executadas. Aconteceu na manhã do dia 19 de fevereiro, quando homens armados invadiram uma casa na Rua Vicente Luís Rocha, no bairro Quintino Cunha, na zona Oeste, e praticaram um duplo homicídio.

Era por volta de 5 horas, quando os assassinos invadiram a casa e mataram mãe e filha. Jovita Duarte Lima, 38; e Deysiane Duarte Lima, 19, foram executadas com tiros de pistola. Deysiane estava com o filho pequeno nos braços. Mesmo assim, os matadores não a pouparam. A criança foi deixada do lado, e mãe e filha tombaram, ficando uma ao lado da outra. O caso continua sendo apurado pelos policiais da Divisão de Homicídios.

Moradores da comunidade onde ocorreu o crime ficaram silentes com a chegada da Polícia, diante do medo de represálias por parte dos matadores. Contudo, a Polícia concluiu que o ´alvo´ dos assassinos era a jovem Deysiane, por conta de seu envolvimento com o tráfico.

Arrastada

Mais recentemente, na manhã do dia 12 de março, os moradores da Rua Sousa Pinto, no bairro do Lagamar, foram surpreendidos por uma cena que chocou.

Uma jovem de 21 anos, Amanda Magda Gentil de Lima, foi fuzilada por dois homens que vestiam farda de uma companhia de eletricidade. Depois de matar a garota, eles arrastaram o corpo pela rua. Um traficante é o suspeito de ter ordenado a execução sumária. Ele teria sido namorado de Magda e, de dentro do presídio, ordenou a morte.

Queima de arquivo

Outra vítima do tráfico foi uma jovem universitária. Era Vanessa Moreira Paiva, que tinha apenas 22 anos. Na noite de 5 de dezembro, ela estava em um carro com dois rapazes. Na esquina da Avenida Monsenhor Tabosa com a Rua Antônio Augusto, o veículo foi ´fechado´ e os três ocupantes executados a tiro.

NÚMERO
4 mulheres foram presas em flagrante, na semana passada, por crime de tráfico de drogas, em operações realizadas pela equipe da Delegacia de Narcóticos

Envolvimento tem motivos diversos
Para o titular da Denarc, delegado Pedro Viana, as mulheres entram no tráfico de drogas por diferentes situações. Algumas decidem comercializar entorpecentes por achar facilidades para ganhar dinheiro. Outras, são coagidas pelos maridos, namorados ou companheiros. E, ainda, há aquelas que herdam o ´negócio´ depois que os parceiros são presos ou assassinados.

Delegado Pedro Viana, titular da Delegacia de Narcóticos, tem constatado a presença, cada vez mais constante, de garotas no tráfico FOTO: KIKO SILVA

"Há casos em que elas decidem traficar drogas porque sabem que o dinheiro vem fácil, sabem que há mais facilidades para as mulheres até mesmo em não despertar atenção da Polícia e até da vizinhança", afirma o titular da Denarc.

Mas, em outras situações segundo o delegado, muitas mulheres são forçadas pelos maridos a entrar para o comércio das drogas, praticando o que os bandidos chamam de ´correria´, que são as transações envolvendo o dinheiro do crime, como fazer cobranças, entregar drogas, transferir dinheiro e fazer a contabilidade da venda dos entorpecentes. "Muitas já nos contaram que foram coagidas pelos maridos ou que viveram a vida inteira sustentada pelo dinheiro que eles obtinham traficando e quando eles são presos ou mortos, elas não sabem fazer outra coisa, não teriam outra atividade e continuam o que eles faziam".

Vingança?

Entre os diversos crimes atribuídos ao tráfico, em Fortaleza, um deles chamou a atenção da mídia. O fato aconteceu na tarde do dia 15 de março último, quando uma jovem mãe, identificada apenas por Adriana, foi fuzilada diante dos cinco filhos.

O caso ocorreu no bairro Rodolfo Teófilo. Adriana e o marido foram baleados quando transitavam com os filhos, empurrando um carrinho de reciclagem. Traficantes ordenaram o crime.

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